O peso da hora de parar

No fim de semana estava lendo um perfil da atriz Eva Marie Saint na Vanity Fair. Perguntada quem foi o maior ator com que trabalhou, nem titubeou: "Marlon Brando", respondeu antes de acrescentar. "O cinema perdeu muito quando Brando perdeu a paixão pela arte". 

A declaração da atriz me remeteu imediatamente ao futebol e ao principal ídolo nacional dos últimos anos: Ronaldo. Assim como Brando, ele surgiu jovem e logo se revelou único. Assim como Brando, o peso na balança foi crescendo publicamente e virou chacota. 

A patrulha externa sobre um assunto tão pessoal - o peso - frequentemente demonstra que as pessoas esquecem que este é um tema doloroso e delicado. Ninguém é 'gordo' porque quer, especialmente em uma sociedade que elogia os magros e sarados. 

Brando, assim como Ronaldo, surgiu como exemplo em sua área. Ronaldo foi ganhando peso quase paralelamente às suas contusões, já Brando simplesmente... engordou. Quando chegou ao ponto que julgou que emagrecer para um papel não valia a pena, o ator abandonou o cinema. Só retornou - enorme - em raras ocasiões em que abertamente precisava de dinheiro. Deprimente, mas esta foi sua escolha.


Ronaldo, como atleta, deveria ter tido menos dificuldade para lutar com a balança, mas, por conta do hipotiroidismo, não teve. No entanto, alegar que o hipotiroidismo foi o grande vilão de sua história é demonstrar pouca força de vontade. É mais fácil, certamente, mas não é certo. 


A disfunção da tiróide atrapalha - e muito - o metabolismo, mas isso só significa que, para alcançar o resultado de emagrecimento, Ronaldo teria que fazer um sacrifício ainda maior que a média, provavelmente eliminando tudo e mais um pouco de qualquer coisa prazeirosa que poderia ter em um cardápio e nas horas de folga. Estar no peso, e nem assim magro, eliminaria conforto. Quem quer viver a vida de regime?

Não é fácil passar fome e ter pouco resultado. Desanima mesmo e Ronaldo se cansou. Na hora de decidir se teria mesmo que insistir na briga, resolveu parar. Nada de errado nisso porque, aos 34 anos, ele não precisa continuar a ser atleta. Pode apenas administrar a marca que construiu até agora. Por outro lado, em tese, ele não precisaria encontrar um vilão oficial para um final triste como o seu. Afinal, não fosse o peso excessivo, ninguém discutiria que Ronaldo teria pelo menos mais seis anos de carreira. Pareceu pesado demais para ele (sem trocadilhos!)

Ronaldo diz que vai se cuidar, mas parece tão mentiroso quanto culpar o hipotiroisimo como razão para gordura. Ninguém tem nada a ver com esta decisão: se ficar gordo ou ainda mais gordo, o problema é exclusivamente dele. Só não culpe a tiróide, por favor...






 

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