Adeus à Sean Connery


 

Sean Connery foi um fisiculturista premiado quando foi escolhido para o papel que definiu sua vida. Escocês (com forte sotaque), ele era filho de pai católico irlandês e mãe protestante de ascendência galesa. Sean era tão apaixonado por eles que tinha duas tatuagens: “Escócia para Sempre” e “Mamãe e Papai”. Sério!


A infância de Sean Connery foi marcada pela pobreza, inclusive sem água quente em casa. Saiu da escola aos 13 anos e ganhava a vida como entregador de leite, entre outros trabalhos sem qualificação técnica. A passagem pela Marinha Real foi curta, foi invalidado por conta da úlcera estomacal que tinha.

O fisiculturismo começou como hobby e aproveitava para ganhar um dinheiro extra como modelo. Claro que sua beleza logo chamou a atenção, mas Sean Connery ficou divido entre jogar futebol profissionalmente (teve uma oferta do Manchester United) ou o teatro. Seguiu com os palcos. Enquanto trabalhava em musicais ou peças, aproveitou para compensar a falta de estudos, lendo os autores clássicos e aprendendo a usar a voz.

Tudo mudou para o ator em 1953, quando ganhou o título de Mister Universe. Passou a aparecer em filmes da BBC e até em Hollywood, onde fez filmes com lendas como Lana Turner. Em poucos anos, veio a grande oportunidade. Os direitos dos livros de Ian Fleming foram comprados e os produtores buscavam um ator para o papel de James Bond. Atores consagrados estavam em consideração, mas uma mulher escolheu Sean. A esposa de Albert BroccoliDana, sugeriu o nome do ator escocês, que foi rejeitado pelo autor, que não via sofisticação nele. “Quero o Comandante Bond e não um dublê forte”, ele teria dito. Isso antes de ver o teste de Sean como 007. Ao perceber que estava errado, reescreveu a história para dar raízes escocesas para Bond (uma vez que o sotaque seria inegável).

Foi o diretor Terence Young que adotou a posição de mentor e literalmente educou Sean Connery, o levando a restaurantes caros, ensinando a jogar, manter a classe e suavizar o sotaque. O resultado foi tão brilhante que, pare muitos, inclusive eu, não conseguiram ver nenhum outro ator como James BondSean Connery foi o primeiro e o favorito, sempre.

Como James Bond, de um dia para o outro Sean Connery ficou milionário e uma grande estrela. A fama trouxe novas possibilidades de trabalho que 007, de certa forma, “atrapalhavam”. Depois de cinco filmes como o espião inglês (Sean fez sete), ele rompeu com a franquia. Seu penúltimo filme como o espião, em 1971, demandou e ganhou mais de um milhão de dólares (na época algo astronômico) como salário e usou o montante para criar um fundo que ajudaria atores escoceses no início de suas carreiras.

Ao lado de um de seus melhores amigos, Michael Caine, Sean fez um de seus melhores filmes, a adaptação do livro de Rudyard KiplingO Homem que Queria Ser Rei. No entanto, Sean era um ator coadjuvante na maior parte da sua carreira, com raros destaques de protagonismo, como O Nome da Rosa (pelo qual ganhou um BAFTA). Ganhou seu único Oscar, como coadjuvante, interpretando um irlandês em Os Intocáveis.

Por dinheiro, aceitou fazer um James Bond envelhecido no único longa que não conta para a franquia, Never Say Never Again. Um fracasso de crítica e bilheteria, mas financeiramente recompensador.

Vários filmes Hollywoodianos de sucesso vieram no encalço do Oscar, de Indiana Jones à aventura The Rock e até a Guerra Fria, como a Caçada do Outubro Vermelho. Par romântico com Catherine Zeta-Jones em A Armadilha e A Liga ExtraordináriaLancelot (onde fez Rei Arthur) foram alguns dos filmes que destacavam Sean no elenco.

A saúde começou a falhar e Sean diminuiu o ritmo. Notoriamente, para os geeks, há uma decisão crucial. Sean Connery recusou ser Gandalf da trilogia de O Senhor dos Anéis.

Decidido a curtir a (merecida) aposentadoria, Sean Connery passou seus últimos anos jogando golf e curtindo a vida. Faleceu dormindo, poucos meses depois de completar 90 anos.

Sim, houve acusações de violência contra mulheres, mas é impossível esquecer sua aparição e contribuição como James Bond. Adeus, Sir Sean Connery.

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(Getty Images)

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