A polêmica sobre Cleópatra

 Cleópatra foi última rainha do Egito e mesmo tantos séculos após a sua morte segue como uma das mulheres mais famosas e discutidas da História. Mesmo tendo sido representada em múltiplas formas de Arte (Música, poesia, pintura, teatro, filme, etc), Cleópatra ainda gera mais dúvidas do que certezas. A principal delas, sobre sua verdadeira aparência. Por muitos séculos, pelo menos na Arte, Cleópatra, foi retratada como caucasiana. No cinema, em especial, atrizes com olhos azuis como Elizabeth Taylor e Vivien Leigh a interpretaram. Nos últimos anos, porém, cresceu a pressão para que a cor da pele da rainha fosse mais próximo da verdadeira Cleópatra. Por isso, o anúncio de que a israelense Gal Gadot será a próxima a personificar a rainha em um novo filme dividiu tantas opiniões. Como era Cleópatra?

Elizabeth Taylor como Cleópatra, em 1963, contribuiu para a polêmica

O primeiro argumento de defesa em favor de Gal é a origem grega da rainha. As raízes da família de Cleópatra podem ser traçadas até Ptolomeu I Sóter, general de Alexandre, o grande. Ptolomeu fundou a Dinastia que durou três séculos e à qual a rainha pertencia. Dessa forma, a linhagem nobre no Egito seria grega, não local, e foi mantida assim pois os Ptolomeus se casavam entre si, usando uniões incestuosas para manter a linha sanguínea. Por isso muitos a consideram “100% geneticamente grega”, mas como Cleópatra foi a primeira de sua família a adotar costumes locais, inclusive de aprender o idioma egípcio, há uma possível confusão sobre sua aparência. Como Israelense, Gal Gadot estaria mais próxima de uma Cleópatra realista do que Hollywood já tenha retratado até agora.

Filha de Ptolomeu XII com sua segunda esposa e irmã, Cleópatra V, a Cleópatra que falamos é a sétima de sua família, sendo que uma de suas irmãs mais velhas era Cleópatra VI. Com a morte dos mais velhos, Cleópatra igualmente se casou com seus dois irmãos, primeiro com Ptolomeu XIII e depois com Ptolomeu XIV. Não há quadros que retratem exatamente como ela era, mas há alguns registros que dão uma luz de como poderia ser. Um deles é uma série de tetradracmas de prata cunhados na Palestina, na época em que a rainha ainda tinha vinte anos e têm seu busto na frente.

Outro registro considerado apurado é uma cabeça de mármore, que tem uma mulher que se parece com a moeda palestina, onde se vê grandes olhos, testa arqueada, nariz pontiagudo e longo, uma boca com lábio inferior ligeiramente carnudo e um queixo pequeno. Estudiosos ressaltam que ela também se parece com outras rainhas de sua família, antepassadas como Berenice I e Arsínoe II.

Apesar da fama de sua beleza, historiadores dizem que o charme verdadeiro da Rainha estava na sua inteligência. Fluente em nada menos do que 12 idiomas, ela era uma mulher notável, especialmente em seu tempo. Os romanos teriam lançado a imagem negativa de uma mulher devassa e inconsequente, mas na verdade ela era uma astuta política.

Por tradição, ela era deveria governar com o irmão, mas por ambição queria a coroa apenas para ela. Iniciou uma guerra entre os dois e precisou da intervenção romana. Quando o jovem Ptolomeu XIII mandou assassinar o general romano PompeuCésar acabou por se unir à causa de Cleópatra. A aliança entre eles virou romance e ela teve um filho do Imperador romano. Se a novela por Roma estava apenas começando, em casa Cleópatra teve ainda que se casar com outro irmão, Ptolomeu XIV, mas conseguiu matá-lo também. Segundo biógrafos, ela também teria mandado dar fim em sua irmã Arsinoe, porque também a via como uma ameaça ao trono.

O que é retratado no filme de 1963, que Cleópatra passou uma temporada em Roma com César, é verdade. Também é verdade que foi nessa época que conheceu Marco Antônio. Ela fugiu às pressas para o Egito depois do assassinato do imperador e se reencontrou com Marco Antônio quando ele brigava pelo poder em Roma. A história de amor entre os dois criou um dos mitos românticos que alimentam até hoje a lenda da rainha. A morte de Cleópatra é quase tão polêmica quanto sua aparência. Uns dizem que morreu na batalha ao lado do amante. A versão mais aceita, contada pelo historiador Plutarco, é a clássica. Ao saber do suicídio de Marco Antônio e a submissão do Egito à Roma, Cleópatra teria se trancado em seu palácio e tirado sua própria vida com uma cobra venenosa, conhecida como “asp”. Era o símbolo da realeza egípcia que usou para encerrar sua história.

O que ninguém disputa em nenhuma versão era a inteligência e cultura de Cleópatra. Ela estudou literatura e astronomia, tinha interesse por medicina, ciências e matemática. Por juntar preparo, beleza e ambição que se destacou na história.


“Nós esperamos que mulheres e garotas ao redor do mundo que aspirem contar suas histórias nunca desistam de seus sonhos. Nós vamos fazer suas vozes serem ouvidas, por e para outras mulheres”, disse Gal Gadot, ao anunciar a produção da nova produção sobre Cleópatra.

A polêmica da cor da pele de Cleópatra ganhou fôlego quando a ossada de sua irmã Arsinoe foi encontrada, em 2009, em uma tumba de mais de 2.000 anos em Éfeso, na Turquia. Exames de DNA mostraram nela traços africanos também, além de europeus. Ainda assim, historiadores contestam a versão da Cleópatra negra.

Gal Gadot, a diretora Patty Jenkins e a roteirista Laeta Kalogridis não reagiram às críticas, nem revelaram mais informação sobre o drama biográfico, que foi uma ideia da atriz e vai ser produzido pela Paramount. Só veremos pronto, na melhor das hipóteses, em 2022.

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