O mistério em torno de Ghislaine Maxwell

reprodução Getty Images/CLAUDIA arte


A história assustadora e doentia de Ghislaine Maxwell e Jeffrey Epstein me parecia periférica e distante até assistir ao documentário da NetflixJeffrey Epstein: Poder e Perversão. A indignação ao ver a impunidade e arrogância de manipuladores criminosos despertou a curiosidade de saber mais. E acabei quase como "setorista" do tema para o site de CLAUDIA.  A morte do misterioso pedófilo, em 2019, não deu fim ao drama, ao contrário, parece apenas ter sido mais um capítulo. Sua principal cúmplice e parceira, Ghislaine, é na verdade a protagonista de uma história de mortes, roubos, luxo e crimes, que começaram com seu pai, o magnata britânico Robert Maxwell

Robert Maxwell, dono de uma rede de revistas e jornais na Grã Bretanha, era um imigrante que ascendeu rápido e suspeito, uma espécie de Cidadão Kane-wanna-be, grandioso, exagerado. Diziam que era um agente treinado do Mossad, mas nada na vida dele foi devidamente esclarecido. O que ficou marcado em sua biografia foram dois fatores que marcaram a vida de sua filha caçula e preferida: o desvio de 590 milhões de dólares do fundo de aposentadoria de seus funcionários e sua misteriosa morte, em 1991, por afogamento. Robert foi encontrado, nu, boiando no mar das Ilhas Canárias após ter oficialmente caído de seu iate. Não há testemunhas e a morte, tratada como acidental, nunca foi investigada a fundo. Até onde se sabe, a fortuna desviada, nunca foi recuperada. 

Ghislaine cresceu no mundo privilegiado europeu, circulando entre a realeza (é amiga pessoal do príncipe Andrew), poderosos (é íntima dos Clintons) e famosos (modelos, atores, etc). Com a morte do pai, no final dos anos 1980s, ela se mudou definitivamente para os Estados Unidos, onde conheceu e namorou Epstein, seu parceiro constante até o fim da vida dele. Por mais que ela hoje negue a ligação entre eles, documentos comprovam que mesmo sem um relacionamento amoroso, Epstein e Ghislaine nunca efetivamente romperam. Agora, presa, ela tenta desesperadamente "limpar" seu nome. O julgamento está marcado para julho de 2021.

E como os dois se conheceram? Como Jeffrey Epstein conseguiu sua fortuna? Qual o envolvimento de Ghislaine na rede de exploração sexual de menores liderada pelo milionário? Como Robert Maxwell morreu?

A única fonte para responder boa parte dessas perguntas é a própria Ghislaine, que insiste em se manter como "inocente" de todas as acusações. Enquanto ela não admite nada, as teorias conspiratórias são alimentadas. Essa semana, fechando setembro, uma série de novas informações podem dar outras perspectivas a uma história de tantas reviravoltas. 

Segundo o podcast Broken: Seeking Justice, Ghislaine conheceu Epstein em 1988, através de seu próprio pai. Segundo o ex-sócio de Epstein, Steve Hoffenberg, Ghislaine nunca fez segredo de como seu Robert a apresentou ao investidor americano. A informação corrobora a teoria de que Robert teria sido um dos primeiros e principais clientes de Epstein, que virou milionário de um dia para o outro. Outra testemunha no processo, a contadora Maritza Vasquez, a fortuna de Epstein começou com sua ligação com Maxwell, lembrando que parte do montante foi desviado do fundo de aposentadoria dos funcionários do magnata. Dessa forma, a conexão de Ghislaine com Jeffrey Epstein é ainda mais profunda do que inicialmente se imaginava e contextualiza a preocupação do milionário de blindá-la quando os processos judiciais começaram, assim como as contas dela continuaram a ser pagas por ele. A fortuna que Epstein deixou após a sua morte está estimada em 578 milhões de dólares. Ghislaine, segundo os documentos de sua prisão em julho de 2020, tem 20 milhões de dólares em sua conta pessoal. Para muitos, resta pouca dúvida da fonte da fortuna de Epstein.

Para ilustrar a ligação dos dois, uma foto postada no twitter, de 1991, mostra o casal em um jantar, em Nova York. O registro foi feito 19 dias após a morte de Robert, em um evento em sua homenagem. Para testemunhas, o sorriso dos dois demonstra intimidade. Na época, eram namorados. Ghislaine dizia para amigos que Epstein cuidava dela "emocionalmente" e que a ligação dos dois não havia interesse financeiro.   

reprodução twitter

A preferência sexual de Epstein por menores de idade não era segredo. Em pouco tempo, Ghislaine passou a ser a "fonte" para que ele tivesse acesso à jovens. Segundo a assistente pessoal da empresária, Maria Farmer,  Ghislaine fazia a seleção das meninas na saída das escolas perto de sua casa, sempre prometendo uma carreira no mundo da moda. O "teste" era feito na casa de Epstein. Segundo Maria, antes de Ghislaine, Epstein tinha pouco alcance à meninas, mas com a ajuda da namorada, ele abusava pelo menos de "três meninas por dia". A assistente viu muitas deixarem a casa em lágrimas. Maria foi abusada por Epstein e Ghislaine também, em 1996, durante uma viagem para New Mexico. Ela é uma das testemunhas do documentário da Netflix.

Ouça aqui o episódio do podcast com mais detalhes sobre o caso (apenas em inglês). Um resumo em CLAUDIA pode ser lido aqui

   

 

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