Nada "unusual"

Quem não viveu os anos 80 não consegue dimensionar a importância de Cyndi Lauper nem seu papel na música pop daqueles anos. 

Muitos artistas apostavam no visual maluco, nas cores berrantes nas combinações inusitadas. Cyndi era genuína e doida, doida mesmo. Veio do nada, com os cabelos cada dia - literalmente - de uma cor, saias longas, voz de Minnie Mouse e um fôlego de cantora de ópera. Pulava como pulga e marcou época cantando Girls Just Wanna Have Some Fun. Seu primeiro LP já a definia muito bem: She's so Unusual (Ela é tão diferente).

Os sucessos e os vídeos (sempre com amigos e parentes) bombavam e - como compositora - ela arrasou com a inesquecível Time After Time. Cyndi era respeitada pela crítica e era maior, mas MUITO maior do que outra cantora que surgiu ao mesmo tempo, uma tal Madonna.

Com Cyndi no páreo, as roupas de Madonna pareciam de freira e os pais não tinham tanto medo que as filhas fossem aparecer com um lado do cabelo raspado e outro longo. Não, perto de Cyndi, Madonna era até segura.

Eu sempre fui fã de Cyndi Lauper. Fã mesmo, fui a mais de um show, tenho todos os CDs, sempre fui fiel. Portanto quando saiu sua biografia voei para ler. Precisei de 48h apenas.

A história de Lauper é incrível, um exemplo de perseverança e sucesso, porém duas coisas se revelam muito claramente nas páginas de sua biografia. Primeiro, parece um bate papo (o que é bom) onde frequentemente os desvios da história perdem a importância do momento e o foco da narrativa. Se comparada à contemporânea Patti Smith, que contou uma história parecida e de forma poética e direta, Lauper perde a força. Uma pena.

A outra decepção é que ela diz que sempre quis fugir das mulheres rancorosas de sua infância, mas, apesar de não dizer "shoulda, woulda"  que tanto temia, o ressentimento de outros artistas que se mantiveram mais altos que ela ou os jovens influenciados por artistas dos anos 80 (como ela) fica mais claro. Uma pena, mesmo. Sua voz e seu imenso talento como compositora são maiores do que isso...