A 4ª temporada de The Crown

 Desde seu lançamento, em 2016, The Crown, virou uma das séries mais populares do mundo. Com o consumo ampliado por conta da pandemia, que forçou mudanças de hábitos e teve forte impacto na produção de novo conteúdo, a quarta temporada da série da Netflix, gravada com antecedência, está gerando enorme expectativa. Some-se a isso a entrada da princesa Diana à trama e a ansiedade ultrapassa o teto.

O público só terá acesso à série a partir do dia 15 de novembro. Os críticos, já viram tudo. E, como era de se esperar, estão divididos.

Para os americanos, assim como os brasileiros, a distância da Família Real meio que os transforma em uma família de celebridades, a qual acompanhamos como um reality show há décadas. Temos opinião, sabemos os detalhes, admiramos, nos emocionamos. Portanto para os estrangeiros, The Crown, mesmo sendo abertamente uma “ficção” criada por Peter Morgan, é como se fosse um “docudrama”. Para os “não súditos”, a interpretação do elenco (já em seu segundo grupo e encaminhando para o terceiro e final), os atores incorporam perfeitamente as personagens, com uma reconstituição de época impressionante para reforçar. Desse lado, a quarta temporada é apenas elogio.

Já os britânicos, há críticas mais duras quanto a Olivia Colman como Elizabeth II, assim como Gillian Anderson como Margaret Thatcher. Eles não gostaram do resultado e foram mordazes.

Há duas estrelas em The Crown que os dois lados do oceano não poupam elogios: Emma Corrin e Josh O’Connor, respectivamente, Diana e Charles. Ambos eram relativamente desconhecidos (Emma está em uma das suas primeiras aparições) e tinham um dos maiores desafios porque a história dos dois é uma das mais conhecidas e comentadas do século 20. Mais ainda, a idolatria à Diana não arrefeceu nem em 23 anos depois de sua morte.

A versão de Diana para a história do casamento e sua separação é a que domina como a “certa”. Ela rompeu padrões – esclarecendo os “padrões reais”, que fazem pouco sentido para qualquer um – e se estabeleceu como a principal rebelde da Realeza, quase derrubando a Monarquia em dois momentos (na entrevista que concedeu à BBC e depois, na sua morte). Portanto, há de se esperar que The Crown siga muito da visão de Diana sobre a frieza dos Windsor, de como foi usada pela Coroa e de como sofreu em um casamento sem amor (mas cheio de regras). A crítica que já viu a série é unanime sobre o brilhantismo de Emma Corrin para conseguir não apenas encarnar na Diana jovem, como também dar uma perspectiva humana sobre os dramas vividos por ela.

Já a atuação de Josh O’Connor na terceira temporada foi absolutamente brilhante. Como o Charles que o público conhece já é sob a ótica apresentada por Diana, de um homem frio, indiferente às dores de um coração partido, era um desafio trazer alguma empatia para a personagem. Não apenas Josh conseguiu superar isso como deu uma outra dinâmica ao futuro Rei. Poucos lembravam ou sabiam da juventude complicada que ele teve, da relação conflituosa que ainda tem com os pais e que a própria Diana ‘culpou’ como a principal influência sobre a maneira de ser do príncipe.

Josh deu uma perspectiva de tristeza para Charles, que, assim como Diana depois dele, era tímido, carente e incompreendido. Na terceira temporada ele mesmo foi vítima da Firma, exatamente como veremos Diana ser. A diferença estará justamente nessa temporada, quando Charles perde o protagonismo inclusive de seu sofrimento e vitimização. A última vez em que o vimos na série, ele foi afastado do amor de sua vida, Camilla, e forçado a seguir o protocolo Real. Os outros membros da Família Real que tentaram escolher o amor em vez do dever, seu tio-avô Eduardo VI, que abdicou da Coroa para ficar com Wallis Simpson e sua sua tia, Margaret, que não teve autorização de se casar com Peter Townsend e não desobedeceu as regras (ficando claramente infeliz para o resto de sua vida), não tinham o peso que Charles tem: de ser herdeiro, de ter que obedecer e seguir as regras, mas estar muito longe de um dia ter autonomia sobre sua vida. Charles “perde” Camilla e se submete, escolhendo Diana e se casando sem amor. Segundo o ator, será o momento em que Charles vira o príncipe que magoou Diana, em vez de ajudá-la. Para Josh, Charles foi destruído pelo sistema e há dor nessa mudança. Segundo os críticos, ele consegue fazer a transformação de tal forma que o odiamos e sentimos pena ao mesmo tempo.

Falta pouco para o lançamento da série. Certamente os Emmys serão dominados pela Coroa.

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