Crítica: Cisne Negro

Filmes que tenham o balé como pano de fundo não conseguem ir muito além dos clichês de esforço, dores e glória. A possibilidade visual da dança, no entanto, continua sem ser explorada e poucos filmes se tornaram relevantes sobre o assunto: Os Sapatinhos Vermelhos e Momento de Decisão são as exceções, e um tem pelo menos três décadas entre eles, assim como o excelente Cisne Negro, que chega aos cinemas sem atrativos de bailarinos profissionais renomados como foi o caso dos dois anteriores.

Não, em Cisne Negro as atrizes Natalie Portman e Mila Kunis treinaram arduamente para fazerem elas mesmas as cenas de dança, o que dá credibilidade. Afinal, Moira Shearer e Mikhail Baryshnikov se saíram bem como atores, mas eram calados e dançando que realmente cresciam em seus papéis. Com Cisne Negro há o equlíbrio perfeito de história, dança e interpretação e o mérito vai para o diretor, Darren Aronovsky, e suas mudas, Portman e Kunis. 

Aronosvky, como sempre, é certeiro ao desenvolver aspectos psicológicos de suas personagens. Nina, interpretada por Portman, está em uma encruzilhada sentimental em sua vida tanto no campo pessoal como profissional e a pressão extra que coloca em si mesma na busca da perfeição, aparentemente, a leva para um crescente enlouquecimento. A viagem desta virada é o que renderá a Portman o merecido Oscar de melhor atriz este ano. O prêmio é dela e de mais ninguém.

PARALELO ENTRE CISNE NEGRO E OS DEMAIS FILMES


Interessante, para os fãs de dança e do clássico Os Sapatinhos Vermelhos é ver com Aronovsky conseguiu revisitar - provavelmente até involuntariamente - um clássico que é ainda hoje o mais perfeito filme sobre balé já feito. Talvez pela época, a evolução da loucura de Vicky, consumida por uma ambição que é a metáfora dos sapatinhos vermelhos, é bem mais suave. Há uma rápida imagem de sangue, mas sutil o suficiente para não chocar o público. Em Cisne Negro não: há sangue, sombras, sexo e violência. Nina persegue a mesma ascensão profissional que Vicky e depara com uma encruzilhada igualmente semelhante entre ser perfeita e doce ou ambiciosa e ousada. O desfecho para ambas não pode ser diferente das telas e está aí o brilhantismo dos dois filmes. Para quem viu os dois, sabe exatamente o que estou falando, inclusive no paralelo de imagens.


Momento de Decisão também é lembrado em Cisne Negro em duas relações também marcantes: Nina e sua mãe, assim como Emilia e a personagem de Shirley MacLaine, tem uma carreira onde a mãe - frustrada - se projeta sem cerimônia. Se libertar do domínio é um elemento crucial da trama.

E, ainda no mesmo filme, a bailarina estrela da companhia é compulsoriamente aposentada para dar espaço para a mais jovem. O papel que Anne Bancroft deu show e classe, é, em Cisne Negro, de Winona Ryder, que se autodetrói sem a menor dignidade.

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