Marilyn Monroe: Meio século de mistério

Ela era fascinante em vida, mas, ao morrer aos 36 anos, se transformou no maior ícone pop de todos os tempos. Há exatos 50 anos, Marilyn Monroe vivia momentos tribulados tanto na carreira quanto na vida pessoal. 


Ela não sabia, assim como nós, que já estava na reta final de sua passagem pela terra. Em maio de 1962, ela estava para ser demitida e humilhada pela Fox. Como de hábito, se atrasava todos os dias paras as gravações de Something's Gotta Give; só bebia (champagne Dom Pérignon) e quase não comia. Uma insônia crônica a atormentava e a solução para dormir eram remédios fortes, ingeridos quase sempre com álcool. 


Divorciada de Arthur Miller, secretamente, Marilyn ainda vivia um romance com pelo menos um dos Kennedys, mas estava para ser descartada também por eles. Frank Sinatra também não quis compromisso (mas ficou noivo da namorada seguinte). Se aproximando dos 40 anos, ela já via os papéis mais "sérios" indo para outras atrizes. Amargava ganhar 100 mil dólares como salário, apenas 10% da mesma Fox que na época pagava à Elizabeth Taylor, rival em todos os sentidos para ela (desde a beleza, sex appeal e até bilheteria). A principal diferença entre ela e Taylor não era salarial, Liz se atrasava, faltava às gravações assim como Marilyn, mas, talvez por estar longe, se safou. Já Marilyn foi escolhida para Cristo ao ser a única diva demitida por estar fazendo o que todas as outras faziam: agir como estrelas.


Com poucos amigos por perto e muitos sangue-sugas, Marilyn decididamente vivia um inferno astral que acabou no início de agosto, quando foi encontrada morta em casa. Acidente? Suicidio? Assassinato? As perguntas nunca se calaram desde então.




Mais um livro para marcar o cinquentenário de sua morte


Escrever sobre Marilyn certamente é lucrativo e a cada ano pipocam mais e diferentes versões sobre sua história, especialmente fim de vida.


Marilyn Monroe sabia que era uma marca, sabia como mantê-la viva e por isso está onde está mesmo 50 anos após a sua morte. Nenhuma de suas rivais jamais chegará aos seus pés.  


Norma Jean Baker (seu nome verdadeiro) tratava sua criação na terceira pessoa. Ela mesma era fascinada pelo mito que personificava e nunca esqueceu que ele era uma invenção. A verdadeira Norma Jean queria uma apreciação que não tinha, fosse reconhecimento como uma mulher intelectual (por isso fazia questão de ser fotografada lendo clássicos), sensual (fotos e mais fotos nuas), bonita (nunca aparecia desarrumada em público) e talentosa (queria ser reconhecida com um Oscar, como todos em Hollywood). A adoração que tinha dos fãs ela apreciava, mas não era suficiente. O que seria? Seus pensamentos foram divulgados com a publicação de várias anotações que fez ao longo da vida... Fragmentos é um livro delicado, misterioso, confuso que apenas ela saberia explicar. É também, sua única publicação como escritora, mesmo que seja um livro póstumo.


Agora, prestes a completar os 50 anos de sua morte prematura, seguem as teorias conspiratórias de assassinatos, queimas de arquivo, erro médico, suicídio ou acidente. Num relato detalhado dos dois últimos anos da vida da diva, o livro Os últimos anos de Marilyn Monroe retoma todas as dúvidas e tenta resumir sua morte ao descaso dos amigos. 


Aos 36, divorciada, insegura por não ser levada à sério como atriz ou namorada, bajulada, mas solitária, Marilyn vivia um cenário mais do que perfeito para depressão. Mas não se deixou abater.


Segundo o livro Os últimos anos de Marilyn Monroe, assim como o artigo do mês de maio da Vanity Fair, com Marilyn na capa é possível perceber que ela tentava lutar com todas as armas possíveis para não sucumbir aos problemas. Mesmo o erro de cálculo que custou sua vida não foi por desespero. Na época, ninguém sabia avaliar corretamente a debilidade física de uma pessoa e assim ela encontrou a morte na noite de 4 de agosto de 1962 por ter tomado medicamentos a mais. Ora, Heath Ledger morreu por questões semelhantes há menos de 10 anos e também foi um acidente. 

Os tempos eram outros, mas a probabilidade maior ainda é de mero acidente


Embora seja, como leitora de todas as biografias publicadas, mais os artigos pelo mundo afora, adepta da teoria da fatalidade, há de se reconhecer que Marilyn inadvertidamente estava brincando com fogo a poucos dias de sua morte.


Hoje é reconhecido e assumido, mas na época ela conseguiu manter o romance com John Kennedy relativamente sob segredo. Sua ligação com Robert Kennedy é mais incerta, quer dizer, da perspectiva romântica. Estaria ela saindo com os dois irmãos? Se até Jackie Kennedy supostamente foi amante do cunhado após a morte do marido, então claramente os irmãos  tinham pelo menos um aparente gosto comum por mulheres. O  fato é que Marilyn acreditou que pudesse vir a ser a primeira-dama dos Estados Unidos (ela também acreditava que era atriz suficiente para ter um Oscar em casa, portanto sonhar não custava nada). Quando os Kennedys perceberam que ela estava se levando a sério demais, a descartaram sem dó ou piedade, como meninos mimados e sem a menor consideração. Ofendida, magoada e humilhada, justamente quando se sentia da mesma maneira com a Fox ao ser demitida, Marilyn ameaçou aos quatro ventos levar todo mundo para a lama com ela. Qualquer coisa que ela ousasse falar em público poderia comprometer muita gente. Dizem, até o governo de Kennedy.


Lembremos que, em tempos de Guerra Fria, assassinatos e espionagem não eram assunto de ficção. Nos turbulentos anos 60, matar por ideologia era uma prática comum e incentivada. Nos dias de hoje pode parecer absurdo e delirante, mas, na época, era plausível e arriscado.


Havia dois pontos comum e sensíveis para os Kennedy nesta ligação com Marilyn Monroe:um deles era Peter Lawford, o cunhado deles na época. Foi o ator quem apresentou a atriz aos irmãos, assim como acobertava os encontros deles com Marilyn e outras. Através dele que  Sinatra, ligado à máfia, também tinha acesso e prestígio com os Kennedys. O cantor foi o primeiro a ser cortado da lista de amigos sem a menor cerimônia, pouco antes de Marilyn. Ambos se irritaram com a prepotência e frieza dos políticos, mas Marilyn era quem sabia os segredos mais íntimos.  


Lawford foi a última pessoa a falar com Marilyn com vida. Segundo o livro Os últimos anos de Marilyn Monroe, ele ligou quando ela já passava mal e pediu socorro, mas o ator julgou que fosse um blefe e não acionou ninguém. Ela foi encontrada morta algumas horas depois.


Ainda segundo o livro, a atriz teria sido vítima de chantagem por parte da máfia, que a teria forçado a participar de uma orgia devidamente documentada. Sinatra, que não sabia de nada, se irritou com a atitude destrutiva, alcoolizada e drogada da atriz e teria brigado com ela durante o fim-de-semana no cassino em Lake Tahoe. Nas suas últimas fotos viva, Marilyn foi fotografada com os mafiosos que os Kennedys temiam tanto. Os registros da suposta orgia seriam usados não contra a atriz, mas para constranger os Kennedys. Qualquer que fosse a verdade nesta teoria, Marilyn estava flertando com pessoas perigosas e com muito mais coisa em risco. A morte dela, sem dúvida, foi um alívio para os Kennedys. A humilhação que teria passado nas mãos dos mafiosos a teriam abalado psicologicamente também, segundo faz crer o livro sobre seus últimos anos de vida. 


Na verdade, todos concordam que Marilyn estava no limite psicológico. No entanto, por todas as matérias e livros, mesmo que alguns a tenham descrito como 'histérica', ela estava na verdade muito irritada e chateada. Seria difícil confundir a fragilidade sentimental com fraqueza para lidar com os fatos duros da vida. Afinal, Marilyn sobreviveu à uma mãe esquizofrênica, nunca soube a identidade do pai, passou por orfanatos e adoções, fome, divórcios... Certamente não estava feliz, mas não estava derrotada. O que a levou a errar - fatalmente - a dose de calmantes foi um cenário turbulento, mas não o desespero. Os fatos do seu último mês de vida: demissão, separação, chantagem, ameaças e incertezas pioram sua insônia e por isso aumentou a dose para se acalmar. Só que não tinha condições físicas para aguentar uma maior dose de remédios. Claro que ela não sabia.


Enfim, neste ano que se completam 50 anos de sua despedida, Marilyn continua presente em todos os meios de comunicação, seja por infindáveis fotos inéditas que sempre surgem, ou diários ou depoimentos daqueles com quem conviveu pouco (ou muito). Ao sair do circuito tão nova e ainda tão bela, Marilyn conseguiu a idolatria mitológica eterna. Vale mais do que o Oscar, os casamentos ou reconhecimento intelectual que buscou em vida.  Será que ela estaria satisfeita com esta troca? Infelizmente, se lembrarmos as angústias de seus últimos dias, podemos apostar que a resposta seria, infelizmente, um não...




























  






























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